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DIÁRIOS FILMADOS


Foto: A atriz arrumava os cabelos no salão do Carlton Hotel durante o Festival de Cannes em 1956.

Fonte da imagem: hollywoodlady.tumblr.com


Ingrid Bergman gostava de brincar no jardim, solta no espaço. O documentário sueco recentemente lançado sobre uma das mulheres mais assustadoramente belas de Hollywood, musa do cinema italiano, desenvolve sua história de forma delicada. É uma reflexão sobre si mesma, narrada em primeira pessoa.


O longa foi organizado a partir de diários, sequências, pequenas histórias caseiras filmadas pela atriz; em “Eu sou Ingrid Bergman” (2015), o diretor Stig Björkman teve acesso a material inédito, cedido pela família. Fez parte da sua técnica de construção também buscar fotografias, entrevistas e materiais publicados na imprensa.


Para Marcelo Lyra, crítico de cinema e atual professor do curso “Introdução à Crítica de Cinema” no Espaço Itaú, uma das características dos personagens montados por Ingrid, que contribui para que ela fixe atenção do público e permaneça na nossa memória afetiva, é seu jeito de olhar como quem sabe muito, mas não diz tudo. “É impressionante como ela mexe poucos músculos e através de movimentos sutis, cria todo um clima, gera uma tensão. Quando ela olha para o Humphrey Bogart ou para o Gregory Peck percebemos exatamente o que estão sentindo. Ela tem uma coisa até um pouco fria, mas que se transforma. É muito característico da linguagem do cinema essa precisão de detalhes”.


Pode-se destacar dois momentos importantes que, de certa forma, foram responsáveis por alavancar a carreira de Bergman. Quando ela assina um contrato com o produtor americano David O. Selznick, um dos maiores de Hollywood, responsável por sucessos como “E o Vento Levou...”, primeiramente. A partir de então, ela passa a estrelar um filme atrás do outro e se torna uma musa da década de 1940, “David assinava contratos de sete anos, então temos um período relativamente longo em que ela estrelou muitas produções”.


Outra passagem essencial da vida da atriz, refere-se a mais um genial diretor, (além de Roberto Rossellini, com quem posteriormente se casou). “Dizem que quando Hitchcock assistiu sua interpretação no longa de 1945, ‘Quando fala o coração’ (Spellbound) e, na sequência, ‘Interlúdio’ (Notorius) em 1946, ficou apaixonado pela atriz e queria que ela estrelasse todos os filmes dele”. Segundo Marcelo, o mestre do suspense teria sido platonicamente apaixonado por Ingrid, mas sempre soube que ela “Não era pro seu bico”.


Apesar de Ingrid Bergman ter levado o Oscar por suas interpretações em “Meia-Luz” (Gaslight) de 1944 e “Anastácia” em 1974, essas não são suas melhores interpretações, o que nos faz questionar o sentido da premiação americana. Afinal, mesmo com o prêmio, esses filmes passam ofuscados diante de longas como “Casablanca”. Na opinião de Lyra, o Oscar é a grande festa da Academia para os acadêmicos, mas não necessariamente os filmes são escolhidos artisticamente.



Entre as principais questões levantadas, estão os relacionamentos. A atriz sofreu preconceito e discriminação por motivos que nos dias atuais causariam pouco espanto, priorizou a carreira e abandonou o primeiro casamento. É como em “Parafilias”, o livro de contos de Alexandre Marques Rodrigues, os caminhos trilhados por nossos sentimentos quase sempre não são lineares. Em uma das histórias a personagem feminina se vê diante da opção metafórica de abandonar uma situação estável, “Não tem como eu evitar o medo, não me sentir apavorada; estou diante de uma nova ponte. Ele pede que eu dê um passo, depois outro, e me abandone nesse vazio evitado que substitui o chão. Mas não é tão simples”.


Quem ainda não conseguiu assistir a cinebiografia de Ingrid Bergman, aguarde por novidades: “Não temos previsão para lançamento de DVD, provavelmente ele não será lançado nessa mídia”, afirma Gabriel Pinheiro, assistente de distribuição da Zeta Filmes. “Como o filme ainda está em cartaz em algumas cidades, Porto Alegre, Rio de Janeiro, e ainda com estreia agendada em outros lugares, demora um tempo para disponibilizarmos o arquivo em streaming, mas vamos investir nessa forma de distribuição”. Nos próximos meses, portanto, será possível assistir o documentário sobre Ingrid Bergman no Netflix, GooglePlay, NetNow e pelo sistema on demand de tevê a cabo. A distribuidora e produtora Zeta Filmes propõe que o cinema invada a vida das pessoas através da internet.

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