top of page

HOMENAGEM PÓSTUMA A ABBAS KIAROSTAMI – O POETA IRANIANO

Poeta, fotógrafo, roteirista e diretor de cinema, Abbas Kiarostami nasceu dia 22 de junho de 1940. Antes do começo dos anos 70, ele já havia trabalhado como pintor, designer gráfico e até mesmo diretor de comerciais para a televisão.


Em 1969 ele entrou no Karun, Instituto para o desenvolvimento intelectual de crianças e adultos, foi quando ele começou suas primeiras experiências cinematográficas.


Desde “O Pão e o Beco”, de 1970, um pequeno curta metragem que tinha uma filmagem extremamente simples: Um garoto precisa passar por uma estreita passagem, mas fica com medo de enfrentar um cachorro que está em seu caminho, Kiarostami cria uma forma totalmente diferente de filmar, deixando qualquer diretor de fotografia irritado.


Com o tempo, o diretor realizaria suas experiências fílmicas, “O Recreio”, “A Experiência” e “O Viajante”, este último seu primeiro longa-metragem sobre um garoto que quer assistir um jogo de futebol na capital Teerã, e precisa mentir para seus pais e ainda lutar para conseguir o dinheiro da passagem.

Kiarostami sempre opta pelos despercebidos, aqueles indivíduos, geralmente crianças, que vivem suas vidas, lutam pelos seus objetivos, mas que são ignorados pelos adultos.


O garoto de “O Pão e o Beco” precisa superar o perigo, mas ninguém repara na sua existência, um homem idoso passa por ele e nem mesmo o percebe, o garoto tenta se aproveitar da indiferença do ancião, o seguindo, em uma cena hilária, mas assim que o velho toma outro caminho, o garoto já está a mercê do perigo novamente.


Em “A Experiência”, outro garoto tenta conquistar uma moça bem mais velha, enquanto trabalha para um patrão insensível às suas necessidades.

No filme “O Viajante”, enquanto a criança tenta conseguir comprar uma passagem, seus pais o ignoram totalmente, só lembram de sua existência apenas quando precisam ir à escola, por causa do mau comportamento do filho.


Depois da revolução islâmica de 1979, o diretor começou a ser conhecido no ocidente com seu filme “Vida e nada mais – e a vida continua”, um filme sobre o terremoto que ocorreu na região de Koker, onde morava um dos atores de seu filme anterior.


Esse filme foi exibido no Brasil na Mostra Internacional de Cinema, ganhando o prêmio do júri e possibilitando inclusive que seu filme anterior também fosse exibido na mostra: “Onde fica a casa do meu amigo”, de 1987.

Cena do filme "Onde fica a casa do meu amigo?", de 1987. Fonte da imagem: cinemascope.com.br



Seus filmes seguem fazendo sucesso ao redor do mundo, mas sempre pouco vistos em seu país de origem, devido à censura rígida iraniana.


Nesse período seus principais filmes foram: “Onde fica a casa do meu amigo”, “Close Up”, “Vida e nada mais - e a vida continua”. Também houve “Gosto de Cereja”, um filme que só passou pela censura porque o diretor conseguiu elaborar uma solução criativa. Beijos eram proibidos, então em uma das cenas finais, o ator e a atriz saem de cena e logo o ator retorna todo feliz, a cena de beijo ocorre fora do enquadramento e acabou sendo liberada.


Nesse tempo, o diretor também escreveu roteiros para amigos dele, como “A Chave”, dirigido por Ebrahim Forouzech, “O Balão Branco” e “Ouro Carmim” do cineasta “Jafar Panahi” que também trata de temas proibidos.


Em 1996, Kiarostami venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes com o filme “Gosto de Cereja”, filme que trata de um tema polêmico, suicídio. Um homem dirige um carro e pede ajuda para as pessoas para quem da carona, ele quer se suicidar, mas precisa de alguém que o enterre de acordo com as normas islâmicas.

Cartaz internacional do filme "Gosto de Cereja", 1997. Fonte: Divulgação.



Outra ousadia: No fim das contas a solução de seu problema não vem nem do militarismo conservador, nem da religiosidade, mas sim do pensamento científico.


Em 2001, o diretor foi para Uganda filmar seu premiado documentário “ABC África”. No ano de 2010, cansado de ter problemas com a censura e ter que cortar cenas de seus próprios filmes, Kiarostami resolveu aceitar propostas de produtores estrangeiros e realizar os filmes fora de seu país natal.


Primeiramente realizou “Cópia Fiel” na França, um filme que discute a questão do original e da cópia, onde um escritor acaba se passando por marido de uma mulher. Depois, no Japão, realizou “Um Alguém Apaixonado”, seu último filme, onde um idoso passa uma noite com uma garota de programa, mas acaba se passando por seu avô para seu namorado.


Essa foi uma forma que ele encontrou de realizar seus filmes com menos problemas, mas ele próprio dizia que “Uma árvore fora de seu habitat natural, já não produz os mesmos frutos que antes”.


Abbas Kiarostami faleceu no dia 4 de julho de 2016, estava com câncer estomacal e morava em Paris para tentar tratar a doença. Foi uma perda terrível para o cinema, ele foi um cineasta que criou uma nova linguagem, praticamente diferente de tudo que se conhece, trabalhava muito com crianças, preferia atores não profissionais, fazia filmes que se pareciam com o neorrealismo, só que de uma forma totalmente diferente, já que não usava os métodos melodramáticos do movimento italiano.


Jean-Luc Godard, o grande diretor da Nouvelle Vague francesa, diz que o cinema começou com D. W. Griffith, o criador da linguagem cinematográfica e morreu com Abbas Kiarostami.


bottom of page